sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

DOUTOR SALVADOR

Por volta de 2001, um forte esgotamento e um princípio de depressão, forçaram-me a fazer um tratamento terapêutico. O terapeuta era o Dr. Salvatore, que chamávamos carinhosamente de «Doutor Salvador»; um americano de quase dois metros de altura, com um par de pés que não precisavam de esqui para fazer equitação, sempre bem servidos por dois chinelos. Além disso, trazia sempre, no canto da boca, um enorme cachimbo, às vezes aceso (em homenagem a extinta maria-fumaça), às vezes apagado, mas sempre no canto da boca. Assim era ele, tanto que, na minha primeira visita ao seu consultório, indaguei-me: quem é o maluco aqui?
Um dia, em uma de suas sessões, sabendo dos comentários que rolavam a seu respeito, perguntou-me, repentinamente:
— Você sabe qual a diferença entre "eu e meus pacientes", lá no sanatório?
Respondi, surpreendido, que não.
Então, ele diz:
— É que eu tenho as chaves!
E soltou um largo e extenso sorriso, que se estivesse usando batom sujaria as orelhas, enquanto levantava, com seu enorme braço, bem alto, um molho de chaves; e as balançava como se fosse uma sineta de escola. ®Sérgio.

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