Por volta de 2001, um
forte esgotamento e um princípio de depressão, forçaram-me a fazer um
tratamento terapêutico. O terapeuta era o Dr. Salvatore, que chamávamos
carinhosamente de «Doutor Salvador»; um americano de quase dois metros de
altura, com um par de pés que não precisavam de esqui para fazer equitação,
sempre bem servidos por dois chinelos. Além disso, trazia sempre, no canto da
boca, um enorme cachimbo, às vezes aceso (em homenagem a extinta maria-fumaça),
às vezes apagado, mas sempre no canto da boca. Assim era ele, tanto que, na
minha primeira visita ao seu consultório, indaguei-me: quem é o maluco aqui?
Um dia, em uma de suas
sessões, sabendo dos comentários que rolavam a seu respeito, perguntou-me,
repentinamente:
— Você sabe qual a
diferença entre "eu e meus pacientes", lá no sanatório?
Respondi, surpreendido,
que não.
Então, ele diz:
— É que eu tenho as
chaves!
E soltou um largo e
extenso sorriso, que se estivesse usando batom sujaria as orelhas, enquanto
levantava, com seu enorme braço, bem alto, um molho de chaves; e as balançava
como se fosse uma sineta de escola. ®Sérgio.
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