domingo, 24 de julho de 2011

SANGUE LIMPO

— Sou filho de um escravo, e que tem isso? Onde está a mancha indelével?… O Brasil é uma terra de cativeiro. Sim todos aqui são escravos. O negro que trabalha seminu, cantando aos raios do sol; o índio que por um miserável salário é empregado na feitura de estradas e capelas; o selvagem, que, fugindo a colonização, vaga de mata em mata; o pardo a quem apenas se reconhece o direito de viver esquecido; o branco, enfim, o branco, que sofre de má cara a insolência dos mais ricos e o desdém do governo. Oh! Quando caírem todas essas cadeias, quando esses cativos todos se resgatarem, há de ser um belo e glorioso dia! (Ato II, cena 12, da peça Sangue Limpo de Paulo Eiró¹)
Sangue Limpo é um drama que tem por cenário São Paulo nos dias da Independência e situa um caso de amor entre um jovem da burguesia e uma jovem parda. O preconceito é vencido pelo rapaz que se rebela contra o pai, ao mesmo tempo em que este é assassinado por Rafael, um negro que jurara nunca mais "ajoelhar-se aos pés de um senhor".
   Na cena 12 do ato II, temos a fala em que Rafael, irmão da jovem mestiça, responde ao "Senhor" que lhe perguntara se corria sangue escravo em suas veias. ®Sérgio.
_____________________________________________
1 - Paulo Eiró (1836-1871), foi poeta e dramaturgo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário