sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O ARTÍFICE DO VERSO

A habilidade, a engenhosidade e a veia satírica de Gregório de Matos, deixam-me, sobremaneira, desconcertado. Com que facilidade, esse artífice do verso, trabalhava seus poemas. Veja:
Certa vez, um conde pediu a Gregório de Matos que fizesse um soneto em seu louvor. O poeta baiano, porém, não achou nele nada que pudesse ser louvado. Não querendo desagradar o nobre conde, compôs assim mesmo o soneto que você vai ler abaixo:
Um soneto começo em vosso gabo¹             (¹ louvor)
Contemos essa regra por primeiro,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo²                (² no fim)
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
Na sexta entro já com a grã³ canseira          (³ grande)
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
Com que maestria Gregório compôs este soneto: usando apenas a forma do soneto, esvaziou o conteúdo e não se comprometeu com elogios falsos. É por coisas assim que tenho de admirar esse poeta. ®Sérgio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário