quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SACI-PERERÊ

Eu sou inté capaz de jurar que durante muitos anos de minha meninice, acreditei na existência do saci. Não que o tenha visto, mas meu falecido avô falava sobre ele de uma maneira tão convincente que não tinha como não acreditar.
Contava que o saci era um negrinho levado da breca. Aparecia à meia-noite ou meio-dia em ponto, mas, também andava pela estrada fora de hora, assobiando e perseguia a gente, léguas e léguas que se andasse. Era pequeno e só tinha uma perna; andava vestido com seu calçãozinho e uma carapuça vermelha. Para uns ele era amigo e protetor e, para outros, perverso e malvado. Pedia, na estrada, aos viajantes, fogo para acender seu cachimbo. Se a gente negasse, ele começava a perseguir, subia nas costas da gente e não largava até fazer acontecer algum mal: um tropeço numa pedra, um galho que despenca na cabeça, uns maribondos que atacam a gente, e por aí vai.
Ao meio-dia começa a aborrecer as cozinheiras. Vai ao fogão a lenha, bota terra nas comidas, apaga o fogo. É o diabo!
De noite bate nas janelas e pede fogo. Deus nos livre! Se a gente lhe dá o fósforo, ele o atira na cara do bobo que lhe deu. Se não lhe dá num pronto, ele atira terra nos olhos da gente. Às vezes, penetra nas casas para praticar toda a sorte de malefícios e acender seu cachimbo.
   Quando a gente encontra o saci tem de encará-lo e puxar de uma faça de aço. Então, o negrinho corre, por esse mundo de fora a fora, que não há quem o apanhe. Se você for por uma estrada e, escuta um assobio fino e áspero, que Deus te livre! É o Saci!
Pois é, acreditava em tudo isso. E para piorar a acreditância, meu avô estava certa noite, a pescar no rio que passa perto da sede da fazenda, quando ouviu que, do outro lado da banda do rio, chamavam o seu nome: “Seu José... Seu José.” Dizia meu avô que era igualzinha voz de gente. Então ele embarcou na canoa e atravessou o rio. Eram 23 horas de uma noite clara como água.
Quando ele chegou à outra margem não viu nenhuma alma. Chamou, assobiou, esperou e cansado, beirando aí a meia-noite, voltou. Embora ele remasse com força, a canoa custava a caminhar como se estivesse carregada de chumbo. Lidou, suou e com o maior esforço conseguiu aportar na margem que pescava. Nem bem a canoa embicou na margem, dela saltou – quem? O Saci, que lhe havia pregado uma peça. Não podendo esse capeta atravessar a água porque Deus disso o proibiu, valeu-se da canoa e da boa vontade de meu avô para atravessar o rio e, do lado de cá, ir judiar das criações que tínhamos na sede.
Quando meu avô chegou à sede da fazenda estava mais branco que a cal da parede, não podia dizer palavra. Só no dia seguinte ele nos contou o que eu lhe contei. Fizemos um terço e benzemos o pesqueiro. Mas quem é que se atreveu ir pescar lá de noite? Mais ninguém, nem os pantaneiros mais atrevidos.
Agora, quem quiser que acredite. Mas que esse causo é verdade, isso lá é verdade. Pela luz que me alumia! ®Sérgio.

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