Certo dia, o caboclo Romildo chegou a seu rancho desejando cortar umas fatias de queijo; então, pediu para sua mulher uma faca. A mulher que era teimosa a não mais poder, cismou que ele devia cortar o queijo com uma tesoura e, em vez da faca, trouxe-lhe uma tesoura. O caboclo estranhou e, de imediato, retrucou:
— Está doida, mulher? Pedi faca, e você me traz uma tesoura!
— Isso mesmo! Queijo não se corta com faca, corta-se com tesoura. Escutou?
— Não senhora! É com faca! E não me queima o juízo, senão...
— Senão o quê? É com tesoura! Com tesoura! Com tesoura! Vou dizer uma, duas, mil vezes...
Romildo insistia na faca e era sempre contestado pela mulher, tanto foi que o caboclo indignou-se e lhe aplicou o mais formidável bofetão de que há memória nas redondezas; depois agarrou sua mulher e a levou até o poço que havia no quintal, lançando-a dentro dele, gritando, irritado:
— Queijo se corta com faca ou com tesoura?
E debatendo-se dentro da cisterna, a mulher a gritou:
— Com tesoura! Com tesoura! Com tesoura... - E aos poucos foi submergindo, porém irredutível, inflexível na sua incompreensível teimosia.
Quando finalmente desapareceu em meio à água da cisterna, que lhe cobria todo o corpo, ainda conseguiu, num último esforço, erguer a mão e, com os dedos abertos, imitar as lâminas de uma tesoura.®Sérgio.
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