quarta-feira, 8 de setembro de 2010

UM HOMEM DE CORAGEM

Imaginem:
Um domingo qualquer.
Uma Igreja lotada.
Senhores de engenho, coronéis e autoridades portuguesas.
Hora do sermão.
Um padre sobe ao púlpito.
Diz:
Os senhores poucos, os escravos muitos;
Os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus;
Os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome;
Os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros;
Os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses;
Os senhores em pé apontando para o açoite, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás como imagens vilíssimas da servidão e espetáculos de extrema miséria.
Oh! Deus! Quantas graças devemos a fé que nos deste, porque só ela nos dá o entendimento, para que à vista destas desigualdades, reconhecemos, contudo, vossa justiça e providência!
Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva?
Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo?
Estes corpos não nascem e morrem, como os nossos?
Não respiram com o mesmo ar?
Não os cobre o mesmo céu?
Não os esquenta o mesmo Sol?
Que destino é este que os domina, tão triste, tão inimigo; tão cruel?
Esse Padre chamava-se Antônio Vieira.
Nasceu na primeira década de um século (Lisboa, 1608), e só morreu na última (Bahia, 1697).
Com uma coragem rara fez do púlpito sua tribuna e se tornou o maior Orador Sacro de nossa língua.
Em toda sua vida e em todo o seu tempo não houve, no Brasil e em Portugal, quem a ele, em brilho, fizesse sombra.
Poucos tiveram a faculdade de suscitar tanto ódio e admiração, poucos têm sido tão lidos e analisados.
Entrou nos palácios com a mesma segurança que explorou as selvas. Enfrentou a inquisição. Lutou contra a escravidão dos negros e dos índios num tempo em que a escravatura era encarada como normal e até mesmo necessária. Defendeu a liberdade religiosa numa época de intolerância, em que os suspeitos de professarem a fé não católica, eram condenados pela inquisição.
E, sobretudo, defendeu sonhos.
Por isso tudo, o Padre Antônio Vieira é uma das personagens mais importantes da nossa Literatura, como também, da História do Brasil e de Portugal no século XVII.
O Sermão? Era o Vigésimo Sétimo. ®Sérgio.

Um comentário:

  1. Excelente! Tenho verdadeira admiração pelos escritos do Pe. Antônio Vieira. Seus sermões, para mim, são(além da Bíblia)os textos mais belos que os meus olhos já viram e minha alma experimentou. Parabéns, também, pelo seu Blog. Abraços de Vera Verá

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