sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A JANELA - Recontando Contos Populares

Conta-se que em uma região do interior, muito afastada dos centros mais civilizados, morava um velho e excêntrico fazendeiro que jamais deixara o lugar onde nascera. Certo dia, o fazendeiro passou mal e, seriamente doente, teve de ser levado, às pressas, para o modesto arraial da região. Como lá não havia recurso para seu tratamento, foi transferido para o hospital da capital.
Por falta de leitos no hospital, o fazendeiro teve de dividir o quarto com outro doente, desenganado pelos médicos. O cômodo era bastante pequeno, e nele havia uma janela que durante o dia permanecia aberta para arejar o quarto. A cama do paciente desenganado ficava ao lado dessa janela e ele tinha permissão para sentar-se, próximo a ela, por uma hora durante as tardes. O fazendeiro, contudo, tinha de passar todo o seu tempo deitado, devido aos problemas cardíacos que sofrera.
 Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava ao lado da janela era colocado na posição sentada; passava sua hora, descrevendo ao fazendeiro o que via lá fora. A janela aparentemente dava para o jardim de entrada do hospital, onde havia um pequeno lago.
Havia patos e cisnes no lago, e as crianças iam atirar-lhes pão. Jovens namorados sentavam nos bancos colocados em volta do lago, debaixo de árvores. Havia gramados e flores no jardim. E ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno de alguns prédios da cidade.
O fazendeiro ouvia-o descrever tudo isso, apreciando cada detalhe. Ouviu como uma criança quase caiu no lago, e como as pessoas estavam bonitas em seus trajes de verão. As descrições do seu amigo eram tão bem feitas, que o fazendeiro tinha a sensação de estar vendo o que acontecia lá fora.
Passaram-se os dias e o fazendeiro começou a lamentar sua situação: Por que só o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo? Por que ele não podia ter essa chance?
Sentia-se envergonhado de pensar assim, mas desejava, sonhava com uma mudança. 
Numa manhã, ao acordar, notou que a cama ao lado da janela estava vazia. Perguntou a enfermeira o que acontecera com seu amigo: “Morreu nessa noite, silenciosamente; levamos o seu corpo para o necrotério”, respondeu a enfermeira.
O fazendeiro, que sonhava com a janela, perguntou-lhe se poderia ser colocado na cama perto da janela. Para a enfermeira pareceu apropriado e, então, o colocaram lá; bem ao lado da janela. Seu sonho estava realizado.
Minutos após saírem os enfermeiros, ele apoiou-se sobre os cotovelos e, com dificuldade, sentou-se na cama. Tomado de enorme expectativa e emoção, olhou para fora da janela. Viu apenas um muro... ®Sérgio.

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