Já faz muito tempo,
numa roda de boteco, nego João, velhaco como ele só, se gabava de que fazia
somente aquilo que queria. Vai daí que um dos formavam a roda, querendo
desmascarar a gabolice de João disse-lhe assim:
— Já que você é tão
esperto, quero ver se é capaz de ir à casa do Dr. Glacindo e almoçar com ele na
mesa. Se conseguir fazer isso, ganhará dez mil réis como prêmio pela esperteza.
Esse Dr. Glacindo era
um sujeito bonachão, orgulhoso, muito cheio de si, e muito rico. Não tirava o
chapéu a ninguém. Tratava a todos com pouco caso.
Nego João tomou um gole
de cachaça, guspiu grosso, limpou os beiços com as costas da mão e respondeu:
— Eh! Nego João vai almoçá
na mesa cum seu doutô. Num prometo o que num cumpro. Tô com esses mil réis na
mão. Vou mostra a vancês tudo cumo se ganha dinheiro à toa...
No dia seguinte,
justamente na hora do almoço de seu doutor, João foi rondar a casa e, quando
viu que “seu” doutor já estava na mesa com a família e com dois manda-chuvas do lugar, bateu na porta
com força. E, quando veio o criado abrir foi entrando muito tal e qual, com ar de importância, como
se ninguém pudesse com ele.
Enveredou pela sala de
jantar, encarou o doutor que olhava para ele carrancudo e espantado, e
disse-lhe assim, baixinho, com jeito de quem pergunta:
— Eh, doutô, uma pedra
de diamante deste tamanho quanto é
que vale? E apontou para o bolso onde, supostamente, tinha a dita pedra do
tamanho de um limão.
O doutor pensando que
de verdade nego João havia encontrado algum diamante tão grande, não querendo
revelar o segredo às outras pessoas daquele achado, mudou de conversa:
— Então João, você como
vai? Já almoçou? Senta. Mariquinha traga prato e talher para o João.
O malandro do João que
estava todo elegante, no terno branco que emprestou de um amigo, sentou-se à
mesa e pôs-se a comer limpando o prato.
O doutor fez com que o
almoço acabasse depressa tão aflito estava para ver a tal pedra de diamante.
Não demorou muito,
levantaram-se todos da mesa e o doutor carregou João para o escritório e lhe
perguntou, muito baixinho:
— Então, meu nego, que
é da pedra?
— Pedra, que pedra...
— A pedra de
diamante...
— Nego João não tem
pedra de diamante nenhuma... Quem sou eu para possuí pedra de diamante!...
— Pois você, nego do
diabo, não disse que achou um diamante?...
— Ieu!...
— Então, patife, porque
é que perguntou quanto vale uma pedra de diamante deste tamanho?...
— Eh, doutô, ieu queria
sabê que é pra quando ieu achá, ozoutros não mi lográ no preço...
O doutor, bufando de
raiva, correu com ele pela porta fora. E nego João foi ao encontro do pessoal
que o esperavam no boteco. O apostador lhe pagou os dez mil réis e depois
fizeram uma grande bebedeira. ®Sérgio.