Viajando
sem destino fixo, errante, indiferente aos perigos, Malasarte foi dar na
fazenda de um fazendeiro ricaço, que era casado e tinha uma filha. Precisando
de uns vinténs, dormindo ao relento, à beira do caminho, Malasarte ofereceu-se
para trabalhar na casa, e foi aceito pelo fazendeiro ricaço.
Como
era tempo de chuva, o chiqueiro estava um lameiro que só vendo. Foi aí que
Malasarte teve uma ideia.
Chegando
a noite, campeou os porcos para longe e lhes cortou as caudas. Voltando ao
chiqueiro, espetou no lameiro as caudas dos porcos.
De manhã, quando o dono da casa veio ver a porcada, Malasarte lhe
apontou o lameiro e disse-lhe que os porcos estavam todos atolados, apenas com
os rabos de fora. O fazendeiro, desesperado, mandou Malasarte ir correndo ao
celeiro buscar duas enxadas para ver se conseguiriam desenterrar os porcos.
Pedro Malasarte foi à carreira; lá chegando, viu a dona e a filha
colhendo laranjas no pomar e lhes disse:
— O patrão mandou as senhoras me acompanharem.
Elas duvidaram; então Malasarte gritou ao fazendeiro, perguntando:
— As duas, patrão?
— Sim, as duas, pateta! E sem demora!
Então, as senhoras não querendo contrariar o fazendeiro, não puseram
mais diferença e acompanharam Pedro que tomou, com elas, outra direção.
Bem longe da fazenda, Malasarte amarrou-as numa árvore, tirou-lhes
todas as jóias que eram de grande preço, e fugiu com toda a porcada que tinha
ocultado ali perto.
Quando o fazendeiro, cansado de esperar pelas enxadas, foi ao seleiro e
não encontrou Malasarte, saiu a procurá-lo e acabou achando a mulher e a filha,
amarradas a uma árvore e nada de Malasarte.
Quando o fazendeiro voltou ao chiqueiro com a enxada, descobriu que dos
porcos só havia os rabinhos, e que ele é que era o verdadeiro pateta.
A muitas léguas dali, Malasarte negociou a porcada com outro
fazendeiro. Com o dinheiro, comprou, no vilarejo, um bom jogo de roupas e caiu no mundo, muito do contente. ®Sérgio.