segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
AUTO: O TEATRO RELIGIOSO
Auto é uma designação
genérica para textos poéticos normalmente em redondilhas. O termo é específico
do espanhol e do português, referindo-se de início a toda obra teatral,
especialmente às de caráter religioso. Do século XV em diante a palavra se
limita às peças em versos (normalmente em redondilhas), em um ato (auto), e de
caráter predominantemente religiosos, embora existam obras de temática profana
e satírica (as farsas), sempre com preocupações moralizantes. Os personagens
encarnam abstrações ou ideias puras (e até atributos divinos), para serem
representadas em solenidades cristãs. Com o surgimento de grandes autores, o
“auto” transcendeu essa finalidade, tornando-se gênero autônomo e de alto
significado literário.
O mais antigo auto,
conhecido, é o de "los Reyes
Magos", talvez escrito no século XIII. Juan Del Encina e Torres de
Naharro são considerados, no final do século XV, os criadores do teatro (auto)
espanhol. Um dos autos mais famosos é o "Monólogo
do Vaqueiro ou Auto da Visitação", de Gil Vicente.
O auto, no Brasil, foi
cultivado pelo Padre José de Anchieta, em seu trabalho de catequese.
Modernamente,
especialmente no nordeste, encontramos textos notáveis que revelam certa
influência medieval. É o caso do Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna. O poeta Joaquim Cardozo escreveu um belo
auto de Natal, De Uma Noite de Festa.
Em ambos é conservado o espírito religioso tradicional, mas os personagens são
popularizados e a tradição folclórica é aproveitada. Poderíamos também citar o Auto de Natal Pernambucano (mais
conhecido como Morte e Vida Severina) e Auto do Frade, ambos de João Cabral de
Melo Neto. No campo da música popular, o Auto
da Catingueira, de Elomar Figueira Melo.
Morte e Vida Severina,
é um texto escrito em versos curtos, onde predomina a redondilha e diálogos
entre personagens. Daí resulta num texto propício a encenação do Auto ou a leitura
em voz alta. O espírito religioso se manifesta nos nomes de alguns personagens
(Maria, José, o carpinteiro) e na exaltação a vida, a partir do nascimento de
uma criança nos mangues de recife. Aí esta a razão do subtítulo Auto de Natal Pernambucano. ®Sérgio.
O EUFEMISMO - Figuras de Pensamento
O eufemismo é uma espécie de perífrase, ou seja, é atenuação,
a substituição - por motivos religiosos, éticos, supersticiosos ou emocionais -
de uma palavra ou expressão de sentido rude, desagradável, por outra de sentido
agradável ou menos chocante. Por exemplo, a infinidade de eufemismo popular
para dissimular o nome do Diabo: Arrenegado, Cão, Coisa-ruim, Tinhoso, etc.
[...] pelo menos ele descansou.
A utilização do verbo descansar atenua o impacto da ideia de "morrer". A morte,
na nossa cultura, ê considerada algo desagradável, assustador, daí a grande
quantidade de eufemismos criados e utilizados para designar essa ideia -
falecer, passar desta para a melhor, ganhar a vida, etc.:
•
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao senhor.
•
Quando a indesejada da gente chegar. (Manuel Bandeira)
•
Era uma estrela
divina que ao firmamento voou! (A. de Azevedo)
Expressões populares como: Ir para a terra dos pés juntos; Comer capim pela raiz; Vestir o paletó
de madeira; são exemplos de eufemismo, porém o caráter cômico dessas expressões em situações de
grande impacto como a morte, subtrai a função do eufemismo.
Outros exemplos:
• Ele faltou com a
verdade. (= mentiu)
• [...] trata-se de um usurpador do bem alheio. (= ladrão)
• Vivia de caridade
pública. (= esmolas) (Machado de Assis)
• O aluno foi convidado
a sair da escola.
(= expulso da
escola)
• Paulo não foi feliz nos exames. (= foi reprovado)
• Enriqueceu por meios ilícitos. (= roubou)
•
Querida, ao pé do leito derradeiro. (= túmulo) (A. de Azevedo)
Como se vê, no eufemismo, existe uma intenção, por
parte do falante ou do escritor, de não chocar o seu interlocutor ou leitor. ®Sérgio.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
PRA LAVAR A ALMA
(Essa é pra lavar a alma de todas as
vítimas dos bundões que estragam a Internet! E vamos lá...).
Não diz que tem MSN, porque senão ele te pede
Se descobrir o seu Orkut, ele vai implorar "add"
Não passe jamais seu e-mail, nem deixe que ninguém lhe conte
Senão virão milhões de arquivos enormes e
em Power Point.
Um bunda mole com banda larga,
É mais que um bunda mole:
É um bunda larga!
Você receberá corrente te prometendo um celular
Mensagens de falsos doentes pedindo pra você ajudar
Vídeos de dez megabits, que você já assistiu
Piadas que têm som de fundo, daquelas que
só ele riu
Um bunda mole com banda larga!
Ele vive na Internet
De noite, à tarde, de manhã!
Ele é quem espalha vírus
Ele é quem espalha spam
O bunda larga...
Ele acredita em boatos, adora lições de moral
Te envia aqueles textos chatos sobre a injustiça social
Se agendar um protesto sobre um tema que lhe atrai
Ele espalha o convite, mas ele mesmo nunca
vai!
O bunda larga...
Ele vive na Internet
De noite, à tarde, de manhã!
Ele é quem espalha vírus
Ele é quem espalha spam
Ele se acha informado
Ele se acha legal
Ele só sabe uma coisa:
Entupir caixa postal!
O bunda larga...
Um bunda mole com banda larga!
(Aê, bundão!)
Letra e
Música: Os Seminovos (a melhor banda de rock do Brasil)
O SUPLÍCIO DO FOGO
"Os Reis Fernando e
Isabel de Espanha entraram para a história por duas razões: o
financiamento da viagem de Cristóvão Colombo e o apoio total às execuções em
massa ordenadas por Tomás de Torquemada, fins do século XV, em nome da Inquisição.
Tomás de Torquemada, inquisidor-mor da Espanha, mandou para a
fogueira, entre 1483 e 1498, nada menos do que oito mil pessoas acusadas de
feitiçaria."
A AGONIA
E MORTE
O escritor português Oliveira
Martins (1845-1894), em História De
Portugal (volume II) descreve, em todos os detalhes, o que foi o Auto de Fé
(cerimônia em que eram executadas as sentenças do Tribunal de Inquisição) que
teve lugar em Lisboa, no dia vinte de setembro de 1540:
Naquele dia, depois de
longos meses de cárcere privado e torturas, dezenas de condenados iriam ter
suas sentenças cumpridas na Praça da Ribeira. Desde as primeiras horas da manhã
o «povaréu» já tomava a praça, onde também já se encontravam as mais
importantes autoridades da corte e da igreja, inclusive o próprio Rei João III.
Os réus eram três mulheres condenadas
por bruxaria, dois homens cristãos-novos (que se converteram recentemente a
religião católica) e um médico acusado de feitiçaria. Terminada a leitura da
acusação, os penitentes, os cristãos-novos e as bruxas foram absolvidos de
serem queimados vivos. Gozariam o «privilégio
de serem estrangulados» antes que seus corpos fossem devorados pelas
chamas. Mas, o médico de São Cipriano, acusado de feitiçaria, seria queimado
vivo. O rei, a corte, o inquisidor se retiraram e os sinos continuaram a
dobrar, pausado e funebremente...
Os carvoeiros de
alabardas (machados), os verdugos (carrascos) de capuzes e os frades de
escapulário (representado por dois pedaços de pano bento, pendentes no peito,
ligados por duas fitas, sobre os quais está escrito o nome da Virgem) e
crucifixo na mão, ficaram junto dos condenados para queimá-los.
O povo cercou em massa
o lugar das pilhas quadrangulares de lenha, com os olhos ávidos e cheios de
cólera, contra esses réus e suas desgraças. Todos, menos o médico, morreram
garroteados (estrangulamento sem suspensão do corpo do supliciado, que
geralmente era mantido a um assento, preso a uma espécie de estaca, na qual, em
altura adequada, se prendia a corda destinada ao estrangulamento) e depois foram
queimados.
O médico-feiticeiro de
São Cipriano, porém tinha culpa maiores e fora condenado a ser queimado vivo.
Junto da pilha de lenha, o frade, com as mãos postas, pedia-lhe que por Deus,
se arrependesse; mas ele com o olhar inquieto e agitado de louco, virava a cara
e zombava. Subiu a pilha a correr, e do alto, sentado no banco, fazia caretas
de escárnio e visagens (expressões) irreverentes. O frade batia nos peitos, a
plebe rugia colérica. Os verdugos amarraram-no ao poste, e os carvoeiros
acenderam a fogueira, que principiou a crepitar.
Os rapazes e as
mulheres da Ribeira, salteando-o com paus e garranchos (anéis de metal com um
gancho colocado na ponta da madeira), arrancaram-lhe um olho. Atiravam-lhe
pedras, pregos e o que pudessem. Faziam-lhe feridas por onde escorria sangue:
tinha a cabeça aberta e um beiço rasgado. Entretanto, a chama já começava a
romper por entre os toros; e ele com as mãos, estorcendo-se, dava no fogo,
querendo apagá-lo; quando via, com o olho que lhe restava, vir no ar uma pedra,
mesmo amarrado, tentava desviar-se, para dela se livrar. Do vão do outro olho,
escorria pela face um fio de sangue. Isso já durava por mais de uma hora e
divertia muito o povo. Mas o vento soprava rijo do poente, da banda do rio e,
arrastava consigo as chamas; e por não ter fumos (fumaça) que o afogassem, o
condenado ficou três horas, vivo, a torrar, agonizando, contorcendo-se, em
caretas, e gritando: "ai... ai... ai..."
Cenas degradantes como esta, e outras ainda mais cruéis, iriam se
repetir milhares de vezes, desde que a Inquisição ou Santo Ofício foi
instaurado. Entre as vítimas da intolerância religiosa, não estariam apenas os
conversos, os heréticos, os cristãos-novos e os feiticeiros anônimos, mas
figuras do porte de um Galileu, de um John Huss, de um Giordano Bruno ou de uma
Joana d’Arc. ®Sérgio.
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Nota: Fiz adaptações linguísticas no texto de Oliveira Martins, para melhor
situá-lo no vernáculo de nossos dias.
sábado, 14 de janeiro de 2012
SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS ACOMPANHADOS DE SUAS PREPOSIÇÕES
Apresentamos aqui uma pequena relação de
substantivos e adjetivos acompanhados de suas preposições mais usuais. A
escolha desta ou aquela preposição deve obedecer às exigências da clareza e
adequar-se as diferentes formas de construção frasal:
Acessível [a]
|
Empenho [de, em, por]
|
Admiração [a, por]
|
Fácil [a, de, para]
|
Afável [para, para com]
|
Feliz [de, com, em, por
|
Afeição [a, por]
|
Fértil [de, em]
|
Aflito [com, por]
|
Horror [a]
|
Alheio [a, de] Hostil [a, par
com]
|
Indulgente [com, para com]
|
Aliado [a, com]
|
Imune, [a, de]
|
Análogo [a]
|
Impaciência [com]
|
Antipatia [a, contra, por]
|
Lento, [em]
|
Apto [a, para]
|
Medo [de, a]
|
Atenção [a]
|
Obediência [a]
|
Atencioso [com, para com]
|
Pasmado [de]
|
Aversão [a, para, por]
|
Passível [de]
|
Avesso [a]
|
Peculiar [a]
|
Capacidade [de, para]
|
Pendente [de]
|
Certeza [de]
|
Preferível [a]
|
Coerente [com]
|
Propício [a]
|
Compaixão [de, para com, por]
|
Próximo [a, de]
|
Compatível [com]
|
Receio [de]
|
Concordância [a, com, de, entre]
|
Relação [a, com, de, por, para]
|
Conforme [a, com]
|
Rente [a]
|
Constituído [com, de, por]
|
Inerente [a]
|
Consulta [a]
|
Junto [a, de]
|
Contente [com, de, em, por]
|
Residente [em]
|
Contíguo [a]
|
Respeito [a, com, para com, por]
|
Cruel [com, para, para com]
|
Simpatia [a, para com, por]
|
Curioso [de, por]
|
Situado [a, em, entre]
|
Desgostoso [com, de]
|
Solidário [com]
|
Desprezo [a, de, por]
|
Suspeito [a, de]
|
Devoção [a, para, com, por]
|
Tentativa [contra, de, para, com]
|
Devoto [a, de]
|
Último [a, de, em]
|
Dificuldade [com, de, em, para]
|
União, [a, com, entre]
|
Facilidade [de, em, para]
|
Versado [em]
|
Dúvida [acerca de, em, sobre]
|
Vizinho [a, de, com]
|
Discordância [com, de, sobre]
|
®Sérgio.
|
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
TUDO O QUE ou TUDO QUE?
Emprega-se
indiferentemente [tudo o que] ou [tudo que]. No entanto, o mais usado é [tudo o que]:
• Fez
pelo país tudo o que pôde.
• Fez
pelo país tudo que pôde.
• Conseguiu
tudo o que queria.
• Conseguiu
tudo que queria.
• Deu
à família tudo o que estava ao seu alcance.
• Deu
à família tudo que estava ao seu alcance.
Da mesma forma, [tudo o mais] ou [tudo mais]:
• Isso
posto e tudo o mais que dos autos consta.
• Isso
posto e tudo mais que dos autos consta.
• Meus
livros e tudo o mais.
• Meus
livros e tudo mais.
• Computadores
e tudo o mais precisam de manutenção.
• Computadores
e tudo mais precisam de manutenção.
Emprega-se
[tudo a ver]. E nunca [tudo haver]:
• Essa
roupa tem tudo a ver (e não: tudo haver) com você.
O
pronome "tudo" corresponde a "todas as coisas" e é de
gênero neutro. ®Sérgio.
DOUTOR SALVADOR
Por volta de 2001, um
forte esgotamento e um princípio de depressão, forçaram-me a fazer um
tratamento terapêutico. O terapeuta era o Dr. Salvatore, que chamávamos
carinhosamente de «Doutor Salvador»; um americano de quase dois metros de
altura, com um par de pés que não precisavam de esqui para fazer equitação,
sempre bem servidos por dois chinelos. Além disso, trazia sempre, no canto da
boca, um enorme cachimbo, às vezes aceso (em homenagem a extinta maria-fumaça),
às vezes apagado, mas sempre no canto da boca. Assim era ele, tanto que, na
minha primeira visita ao seu consultório, indaguei-me: quem é o maluco aqui?
Um dia, em uma de suas
sessões, sabendo dos comentários que rolavam a seu respeito, perguntou-me,
repentinamente:
— Você sabe qual a
diferença entre "eu e meus pacientes", lá no sanatório?
Respondi, surpreendido,
que não.
Então, ele diz:
— É que eu tenho as
chaves!
E soltou um largo e
extenso sorriso, que se estivesse usando batom sujaria as orelhas, enquanto
levantava, com seu enorme braço, bem alto, um molho de chaves; e as balançava
como se fosse uma sineta de escola. ®Sérgio.
MEU SONHO
"Pus o
meu sonho num navio
E o navio em
cima do mar;
Depois abri o
mar com as mãos,
Para meu
sonho naufragar."
Cecília Meireles.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
NA ÉPOCA DO TELÉGRAFO
Na época dos telégrafos, a
empresa Western Union, maior provedora de serviços de mensagens telegráficas
nos EUA, testava os novos aparelhos a fim de garantir que eles enviariam todas
as letras sem erros. Para fazer os testes, foi criada a frase "the quick
brown fox jumps over the lazy dog" (a rápida raposa marrom pula sobre o
cão preguiçoso), sentença que une em apenas uma linha todas as letras do
alfabeto.®Sérgio.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
O PERDÃO MENTIROSO
"Os Reis Fernando e Isabel de Espanha entraram
para a história por duas razões: o financiamento da viagem de Cristóvão Colombo
e o apoio total às execuções em massa ordenadas por Tomás de Torquemada, fins
do século XV, em nome da Inquisição. Tomás de Torquemada, inquisidor-mor
da Espanha, mandou para a fogueira, entre 1483 e 1498, nada menos do que oito
mil pessoas acusadas de feitiçaria."
No livro - La
Inquisición de Logrono y um Judaizante Quemado, em 1719, do historiador espanhol Fidel Fita Colomé
(1835-1918), descreve-se a queima de um cristão-novo:
Era uma manhã de agosto; o condenado já
está amarrado ao poste; um padre passa-lhe diante do rosto uma tocha (para
preveni-lo do que o espera se não se arrepender). A sua volta, acham-se outros
religiosos, todos insistindo para que o mesmo se converta. Tais pedidos (rogos)
se prolongam, cada vez com mais insistência, durante certo tempo; até que, em
dado momento, o réu decidiu-se à conversão. Com perfeita serenidade diz: "Quero
converter-me a religião de Jesus Cristo". Palavras, estas, que não se
ouvira dele até aquele momento. Isso deixou os religiosos bastante alegres, que
o abraçaram com ternura e deram infinitas graças a Deus por ter-lha aberto uma
porta para a conversão.
Quando fazia sua confissão
de fé, um padre da Ordem dos Franciscanos perguntou-lhe: "Em que lei
morrerá?" Ele virou-se, e olhando nos olhos do religioso, disse-lhe:
"Padre já lhe disse que morro na religião de Jesus Cristo." Todos
novamente se alegraram e o franciscano que se achava ajoelhado levantou-se e
abraçou o criminoso. Nesse momento, o criminoso viu o carrasco - que se mantivera,
até um pouco antes, atrás do poste onde aquela alma convertida se encontrava
amarrada, e perguntou-lhe: "Porque você me chamou de cão antes?" O
carrasco respondeu: "Porque negou a religião de Jesus Cristo; mas agora
que confessou, somos irmãos, e, se lhe ofendi pelo que falei, peço perdão de
joelhos." O criminoso perdoou-o e ambos abraçaram-se.
Desejoso de que não se
perdesse aquela alma que havia dado tantos sinais de conversão, dirigi-me (o
inquisidor) casualmente para trás do poste, onde estava o carrasco e dei-lhe
ordem para que o estrangulasse imediatamente, porque era muito importante não
haver demora. Ele fez isso com grande presteza.
Assegurando-se de que o
condenado estava morto, o carrasco recebeu ordem para atear fogo nos quatro
cantos da pilha de lenha e carvão. Fê-lo imediatamente e a pilha começou a
queimar de todos os lados, erguendo-se as chamas rapidamente na plataforma e
queimando a madeira e a roupa. Quando a corda que amarrava o prisioneiro
queimou-se ele caiu no alçapão para dentro da pilha e seu corpo ficou reduzido
a cinzas.
Cenas degradantes como esta, e outras ainda mais cruéis, iriam se
repetir milhares de vezes, desde que a Inquisição ou Santo Ofício foi
instaurado. Entre as vítimas da Intolerância religiosa, não estariam apenas os
conversos, os heréticos, os cristãos-novos e os feiticeiros anônimos, mas
figuras do porte de um Galileu, de um John Huss, de um Giordano Bruno ou de uma
Joana d’Arc. ®Sérgio.
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Nota:Fiz adaptações linguísticas no texto de Fidel Fita, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.
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Nota:Fiz adaptações linguísticas no texto de Fidel Fita, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.
A LENDA SIOUX -
Há uma lenda dos índios Sioux que, com a devida licença, não
poderia deixar de contar-lhes. Mas vou avisando que apesar da narrativa ser
minha, a essência da lenda não foi modificada.
Conta-se que, certa vez, os jovens índios Sioux Touro Bravo
e Nuvem Azul, foram à tenda do velho feiticeiro fazer um pedido:
— Sábio senhor, eu amo Nuvem Azul e ela a mim e vamos nos
casar. Nosso amor é tanto que viemos lhe pedir um conselho: há algo que
possamos fazer que nos garanta ficarmos para sempre juntos, um ao lado do outro
até a morte?
O velho feiticeiro,
ao ver aqueles jovens, tão apaixonados e
tão ansiosos por uma palavra, disse emocionado:
— Há uma coisa que podem fazer, porém é uma tarefa muito
difícil e exige muito sacrifício. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte, ao
norte da aldeia, levando consigo apenas uma rede, caçar o falcão mais vigoroso
e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro
Bravo, deves escalar a montanha do trono e também levar apenas uma rede; quando
chegares lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Deves
apanhá-la e trazê-la para mim, viva!
Touro Bravo e Nuvem Azul abraçaram-se com ternura,
agradeceram o velho feiticeiro e partiram para cumprir a missão.
No dia estabelecido, os jovens, com as aves, voltaram à
tenda do feiticeiro. O velho tirou as aves dos sacos de couro e constatou que
eram verdadeiramente os exemplares dos formosos animais que ele tinha pedido.
— E agora, o que faremos? Perguntaram os jovens, tomados de
expectativa.
— Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas
fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.
Touro Bravo e Nuvem Azul fizeram o que lhes foi ordenado e
soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas, o que conseguiram foi
apenas saltar pelo terreno. Após várias tentativas, as aves, irritadas pela
impossibilidade de voarem, arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até
se machucarem. Então o velho disse:
— Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho.
Vocês são como a águia e o falcão. Se, um ao outro, estiverem amarrados, ainda
que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde,
começarão a machucarem-se. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem
juntos, porém, jamais amarrados. Libere a pessoa que você ama para que ela
possa voar com as próprias asas.
“A
única verdadeira segurança não se encontra em ter ou possuir, nem em exigir ou
prever; e sim na fluidez, na libertação.” ®Sérgio.
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