Seleta de Poemas
representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com
vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
TRISTEZA DO INFINITO
Anda
em mim, soturnamente,
uma
tristeza ociosa,
sem
objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa.
Como
ave torva e sem rumo,
ondula,
vagueia, oscila
e
sobe em nuvens de fumo
e na minh'alma se asila.
Uma
tristeza que eu, mudo,
fico
nela meditando
e
meditando, por tudo
e em toda a parte sonhando.
Tristeza
de não sei donde,
de
não sei quando nem como...
flor
mortal, que dentro esconde
sementes de um mago pomo.
Dessas
tristezas incertas,
esparsas,
indefinidas...
como
almas vagas, desertas
no rumo eterno das vidas.
Tristeza
sem causa forte,
diversa
de outras tristezas,
nem
da vida nem da morte
gerada nas correntezas...
Tristeza
de outros espaços,
de
outros céus, de outras esferas,
de
outros límpidos abraços,
de outras castas primaveras.
Dessas
tristezas que vagam
com
volúpias tão sombrias
que
as nossas almas alagam
de estranhas melancolias.
Dessas
tristezas sem fundo,
sem
origens prolongadas,
sem
saudades deste mundo,
sem noites, sem alvoradas.
Que
principiam no sonho
e
acabam na Realidade,
através
do mar tristonho
desta absurda Imensidade.
Certa
tristeza indizível,
abstrata,
como se fosse
a
grande alma do Sensível
magoada, mística, doce.
Ah!
tristeza imponderável,
abismo,
mistério, aflito,
torturante,
formidável...
ah!
tristeza do Infinito!
• João da Cruz e Sousa, Dante Negro ( 1861 — 1898). ®Sérgio.